sábado, 17 de dezembro de 2011

Rosas para Cesária

imagem retirada da internet
Mindelo, 27 de agosto de  1941 - Mindelo, 17 de dezembro 2011

O mundo e a música ficaram mais tristes hoje...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Canto a Cabo Verde


Quero
Um canto diferente
 Para cabo verde 

já não somos
Os flagelados do vento leste
 Dominamos os ventos
 Já não somos contratados
Como animais de carga para o sul 
Conquistamos a dignidade de ser gente 

Por isso
Vou cantar
 De forma diferente
 Para essa pátria do Meio Mar
Vou me esquecer, enterrar
Os lamentos, as lamúrias 
A tristeza
 De quem quer ficar
Com o destino de ter que partir
 Não vou chorar 
A pobreza, a fraqueza 
A seca
 A natureza madrasta
Canto 
Para este povo
Um canto de alegria.


David Hopffer Almada

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Você: Brasil




Eu gosto de você, Brasil,
porque você é parecido com a minha terra.
Eu bem sei que você é um mundão
e que a minha terra são
dez ilhas perdidas no Atlântico,
sem nenhuma importância no mapa.
Eu já ouvi falar de suas cidades:
A maravilha do Rio de Janeiro,
São Paulo dinâmico, Pernambuco, Bahia de Todos-os-Santos.
Ao passo que as daqui
Não passam de três pequenas cidades.
Eu sei tudo isso perfeitamente bem,
mas Você é parecido com a minha terra.

E o seu povo que se parece com o meu,
que todos eles vieram de escravos
com o cruzamento depois de lusitanos e estrangeiros.
E o seu falar português que se parece com o nosso falar,
ambos cheiros de um sotaque vagaroso,
de sílabas pisadas na ponta da língua,
de alongamentos timbrados nos lábios
e de expressões terníssimas e desconcertantes.
É a alma da nossa gente humilde que reflete
A alma das sua gente simples,

Ambas cristãs e supersticiosas,
sortindo ainda saudades antigas
dos sertões africanos,
compreendendo uma poesia natural,
que ninguém lhes disse,
e sabendo uma filosofia sem erudição,
que ninguém lhes ensinou.

E gosto dos seus sambas, Brasil, das suas batucadas.
dos seus cateretês, das suas todas de negros,
caiu também no gosto da gente de cá,
que os canta dança e sente,
com o mesmo entusiasmo
e com o mesmo desalinho também...
As nossas mornas, as nossas polcas, os nossos cantares,
fazem lembrar as suas músicas,
com igual simplicidade e igual emoção.

Você, Brasil, é parecido com a minha terra,
as secas do Ceará são as nossas estiagens,
com a mesma intensidade de dramas e renúncias.
Mas há no entanto uma diferença:
é que os seus retirantes
têm léguas sem conta para fugir dos flagelos,
ao passo que aqui nem chega a haver os que fogem
porque seria para se afogarem no mar...

Nós também temos a nossa cachaça,
O grog de cana que é bebida rija.
Temos também os nossos tocadores de violão
E sem eles não havia bailes de jeito.
Conhecem na perfeição todos os tons
e causam sucesso nas serenatas,
feitas de propósito para despertar as moças
que ficam na cama a dormir nas noites de lua cheia.
Temos também o nosso café da ilha do Fogo
que é pena ser pouco,
mas — você não fica zangado —
é melhor do que o seu.

Eu gosto, de Você, Brasil.
Você é parecido com a minha terra.
O que é é tudo e à grande
E tudo aqui é em ponto mais pequeno...
Eu desejava ir-lhe fazer uma visita
mas isso é coisa impossível.
Eu gostava de ver de perto as coisas
espantosas que todos me contam
de Você,
de assistir aos sambas nos morros,
de esta cidadezinha do interior
que Ribeiro Couto descobriu num dia de muita ternura,
de me deixar arrastar na Praça Onze
na terça-feira de Carnaval.
Eu gostava de ver de perto um lugar no Sertão,
d de apertar a cintura de uma cabocla — Você deixa? —
e rolar com ela um maxixe requebrado.
Eu gostava enfim de o conhecer de mais perto
e você veria como é que eu sou bom camarada.

Havia então de botar uma fala
ao poeta Manuel Bandeira
de fazer uma consulta ao Dr. Jorge de Lima
para ver como é que a poesia receitava
este meu fígado tropical bastante cansado.
Havia de falar como Você
Com um i no si
— “si faz favor —
de trocar sempre os pronomes para antes dos verbos
— “mi dá um cigarro!”.

Mas tudo isso são coisas impossíveis, — Você sabe?
Impossíveis”.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Viagem


imagem recolhida na internet
       Em torno da odisséia das ilhas, creio levar
         Neste puro desejo que me transcende, a senha
         E a palavra-chave de os labirintos serem aqui
         Simples lugares de passagem, apenas paisagem...

         O andarilho palmilha todas as dunas, areias
         De intermináveis desertos e todas as ondas
         Que os oceanos concedem, quando furibundas
         ou, mesmo, serenadas e das praias acariciadas...

         Sem culpa, nem sina – ou de job puro devedor -,
         Percorro de lés a lés o mapa que é de ti e do mundo
         Como quem responde à morte o saldo estival...

         Como quem salta para a eterna idade da vida
         E fica suspenso entre a estrela e sua cadência
         A riscar, de viajar tão-somente, o céu da noite...

Viagem - Filinto Elisio

poema retirado daqui