segunda-feira, 15 de outubro de 2012

José Luiz Hopffer Almada

José Luís Hopffer Almada


Utiliza os nomes literários Zé di Sant’y Águ, Erasmo Cabral d’Amada, Tuna Furtado, Dionísio de Deus y Fonteana e Alma Dofer.
Nasceu a nove de dezembro de 1960, no sítio de Kel-Len (Pombal), Conselho de Santa Catarina (Ilha de Santiago), EM Cabo Verde.
A partir dos quatro anos de idade passou a residir com a família em Assombra, onde concluiu o Ensino Primário e o Ciclo Preparatório.
Cursou os Liceus na Cidade Ada Praia, onde exerceu destacadas funções no movimento associativo estudantil e no seio da Juventude estudante Africana Cabral, liceal, de que foi militante até 1979. Enquanto estudante exerceu funções de responsabilidade em vários campos agropolíticos, tendo participado do XI Festival da Juventude e Estudantes (Cuba, 1978) e do Seminário de Cultura de Rufisque (Senegal, 1979).
Licenciou-se em Direito pela Universidade Karl Marx, de Leipzig (1984). Foi co-fundador do Núcleo e do Movimento Pró-Cultura e da Revista de Artes, Letras e Cultura Fragmentos, de que é Diretor, um dos principais dinamizadores do Voz di Letra(suplemento cultura do jornal Voz di Povo) e a realizador do programa radiofônico de cultura “Gentes, Idéias, Cultura”.
Foi-lhe atribuído, em 1978, o primeiro prêmio do Concurso Literário Nacional e, em 19779, o segundo prêmio ex-aequo do Concurso Literário Nacional, realizado nesse ano.Integrou a Comissão Nacional para o Acordo Ortográfico (1986/87), o júri do prêmio “Jorge Barbosa” (1987), a Comissão Nacional da Língua Cabo-verdiana e o conselho Nacional de Cultura. É membro fundador da Pro-Associação e da Associação dos Escritores Cabo-verdianos, bem como Associação dos Amigos do Conselho de Santa Catarina, cujas Direções integra.
Participou do Simpósio sobre a Literatura e a Cultura Cabo-verdianas (Mindelo, 1986), do Simpósio Integral sobre a Poesia e o Sagrado (Liège, Bélgica, 1990), do Encontro sobre a Música Nacional (Praia, 1988)  e de várias mesas-redondas sobre a Cultura. Tem trabalhos publicados no Voz di Letra, no VP – Caderno2, no Voz di Povo, no Jornal de Angola, nas revistas Fragmentos, Ponto  e Virgula, Pré-textos, Seiva e Artiletra. Consta da antologia Changing Afrika, organizada pelo professor Gerald Moser (1992). Exerceu as funções de Diretor do Gabinete de Assuntos Jurídicos e de Legislação da Chefia do Governo. Para além da antologia Mirabilis – De Veias ao Sol, publicou À Sombra do Sol I e À Sombra do Sol II. Reside na Cidade da Praia.
Foi Redator Geral da IV Mesa-Redonda Afro-Luso-Brasileira (1994).



AUTOBIOGRAFIA

Nasci numa aldeia
à sombra de um sobrado
e da austera penumbra das montanhas

Ainda criança
galguei a orografia de Assomada
e fiz-me árvore do planalto

O serpentear das estradas
fez-me desembocar no mar
junto a uma cidade
enfeitiçada de azul e murmúrio

De costas para o mar
insinuei-me – para além da ilha –
na lenta e transparente caminhada das nuvens
para beijar loucamente
a neve com odor de carvão de Leipzig

Hoje sei quem sou
um simples signo da Adão e Eva
e do seu éden pétreo no Piku Ntoni


MITOLOGIA CRIOULA

(In memorian do profeta Nhu Naxu)

Nabucodonosor!
Nabucodonosor!

Onde estão a tua espada
e a tua raiva
nas brumas suculentas de Santiago?

Os templos caíram em ruínas
desde quando a eternidade
ruía defronte dos galeões
e desfazia-se nos basaltos das ribeiras

As cidades de tão velhas
metamorfosearam-se em aldeias
e cobriam as faces da amnésia

Os campos continuam perscrutantes
e oferecem olhares melancólicos às urbes
do nosso querer

Os homens esses encontram-se presos
em plena cidade
pelas âncoras do vento

Nabucodonosor!
Nabucodonosor!


SONHOS À SOMBRA

(Para o meu amigo Cândido de Oliveira)


Ó sonhos que estais à sombra
não estais decerto moribundos
quando
simplesmente à sombra estais
anônimos ao ombro da noite

Ó sonhos que estais à sombra
não sois decerto sombrios
quando à sombra
nos rios do escuro crepúsculo
navegais

Cansados da podridão e do calor
e do fétido odre de pesadelos
que é o dia

Ó sonhos
estais decerto à sombra
anódinos
esperando o tempo de ser nuvem!...


NÃO TENHO DIAS TRIUNFAIS


(In memorian de Fernando Pessoa,correspondente comercial e poeta, e de Antônio Nunes, sagitário)


Ausente da memória
vejo os dias
caminhar irreversíveis
para o Sono e o lento Olvido da Esperança

Restam-me a branca pedra de neve
a estação da Meditação
as longas tardes outonais
e a rememoração de Outubro

Lentas passam as vozes
e permanecem
como súbitos e conjecturais resquícios
do Tempo

ausente da Memória que de mim
e da cinzenta pedra de neve se afastam
E a arcada da Maturidade é, então, o rosto
mais recente do Olvido

Minuciosamente
vejo a Ausência incrustar-se à Memória
num breve xisto das palavras
Não tenho dias triunfais


À SOMBRA DOS TÚMULOS

(Ao Valdemar Velhinho Rodrigues)

Também eu
anódino espectro de pseudônimos
à sombra dos túmulos
na penumbra das metáforas
procuro a perdida alma
dos caminhos do crepúsculo
e da súbita reaparição
dos  vates do amanhecer

Não sei se no horizonte
é o crepúsculo ou a aurora
que se divisam
como  não sei qual é
o rosto verdadeiro de Deus
se ele é o demiurgo primeiro dos
heterônimos da Santíssima Trindade
ainda Fernando Pessoa era
uma hipótese de rand
sob a sombra do sol.



Extraído de ROZÁRIO, Denira. Palavra de Poeta;  Cabo Verde – Angola.  Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
Página publicada em novembro de 2008.


Retirado daqui


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Mãe Negra

imagem colhida na internet


A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
—Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade... 


Mãe Negra - Aguinaldo Fonseca